O conquistador
Eduardo Galeano
Em 1532, o conquistador Pizarro
aprisionou o inca Atahualpa, em Cajamarca. Pizarro prometeu-lhe a liberdade se
o inca enchesse de ouro um grande quarto. Desde os quatro cantos do Império, o
ouro chegou e abarrotou o quarto até o teto. Assim mesmo, Pizarro mandou matar
o prisioneiro. Desde quando as primeiras caravelas apontaram no horizonte, até
nossos dias, a história das Américas é uma história de traição à palavra:
promessas quebradas, pactos descumpridos, documentos assinados e esquecidos,
enganos, ciladas. “Te dou minha palavra” pouco mais quer dizer do que... nada!
Não teríamos que aprender com os índios? Os primeiros habitantes das Américas –
derrotados pela pólvora, pelos vírus, pelas bactérias e pela mentira –
compartilham a certeza de que a palavra é sagrada. Um indígena mapuche, ao sul
do Chile, diz: “para nós, ainda hoje, a palavra continua sendo o maior dos
monumentos”. Um indígena avá-guarani, no Paraguai, diz: “a palavra vale porque
é nossa alma. Não precisamos colocá-la no papel para que nos creiam. Na
Guatemala, em 1995, já no período que chamam “democrático”, militares
executaram a matança da comunidade indígena de Xamán. Havia uma montanha de
provas que condenavam os assassinos. A secretária que transcreveu o auto
processual cometeu um erro ortográfico na qualificação penal: escreveu
“ejecusión” com “s” em vez de “c”. Os advogados do exército sustentaram que
esse delito, escrito assim, com “s”, não existe. O promotor protestou: foi
ameaçado de morte e partiu para o exílio.
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