sábado, outubro 31, 2015

É melhor atirar-se à luta em busca de dias melhores, mesmo correndo o risco de perder tudo, do que permanecer estático, como os pobres de espírito, que não lutam, mas também não vencem, que não conhecem a dor da derrota, nem a glória de ressurgir dos escombros. Esses pobres de espírito, ao final de sua jornada na Terra não agradecem a Deus por terem vivido, mas desculpam-se perante Ele, por terem apenas passado pela vida.

sexta-feira, outubro 30, 2015

Fábula dos macacos
Autor: Anônimo
"Uma vez, num vilarejo, apareceu um homem anunciando aos aldeões que compraria macacos por 10 moedas cada. Os aldeões foram à floresta caçar macacos.

O homem comprou centenas de macacos a 10 moedas e então os aldeões diminuíram seu esforço na caça. Aí, o homem anunciou que agora pagaria 20 moedas por cada macaco.
Os aldeões renovaram seus esforços e foram novamente à caça.

Os macacos foram escasseando cada vez mais e os aldeões foram desistindo da busca. A oferta aumentou para 25 moedas e a quantidade de macacos ficou tão pequena que já não havia mais interesse na caça. O homem então anunciou que agora compraria cada macaco por 50 moedas!

Entretanto, como iria à cidade grande, deixaria seu assistente cuidando das compras. Na ausência do homem, seu assistente disse aos aldeões: "olhem na jaula todos estes macacos que o homem comprou. Posso vender cada um a vocês por 35 moedas e, quando o homem retornar da cidade, vocês os revendam a ele por 50 moedas cada."... Os aldeões, espertos, pegaram todas as suas economias e compraram todos os macacos do assistente.

Eles nunca mais viram o homem ou seu assistente, somente macacos por todos os lados.

quinta-feira, outubro 29, 2015

Frio. Já é se dar o direito de ser frio. Que dia
Eu tento passar por ele incógnito. Me entra nos ossos.
É uma questão pessoal. Eu finjo que o frio não me ofende. Talvez se emende, porque o frio tem a delicadeza de um punhal

quarta-feira, outubro 28, 2015

O essencial é saber ver, mas isso, triste de nós que trazemos a alma vestida, isso exige um estudo profundo, aprendizagem de desaprender.
Eu prefiro despir-me do que aprendi, eu procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desembrulhar-me e ser eu.
 Alberto Caeiro

terça-feira, outubro 27, 2015

Quero escrever o romance do nada. Quero mostrar a mais secreta das suspeitas humanas: a de sua própria inutilidade. Quero insinuar que a religião do trabalho, em seus valores mais altos – a arte e o poema – é também esporte. Quero esmurrar as hipocrisias.
  Júlio Cortázar

segunda-feira, outubro 26, 2015

Uma televisão que não quer o artístico só se dirige ao público existente. A televisão que quer o artístico, vai buscar esse novo público.

domingo, outubro 25, 2015

Maria não consegue dormir. Sua cabeça não para e a carne está inquieta. É noite de chuva. A televisão está ligada, mas todas as atenções estão voltadas à sucessão de ideias e imagens que passam pelo seu corpo. Pensa nos filhos que nunca existiram; no abandono que sofreu dos pais, ao ser doada para um família mais pobre que a sua quando tinha apenas onze anos; nos amores que recusou por medo; na perda, por puro preconceito, do único homem que realmente amou; nos vícios que acumulou; na repartição pública em que passa parte essencial da sua vida; no aborto da sua irmã adotiva; na morte de sua mãe biológica; na doença cardíaca do pai; na fobia constante que sente ao comer; na morte; na angústia de estar sempre só. A cabeça dispara. Parece uma metralhadora de acusações. Ela quer dormir. Não consegue calma alguma. Há alguns meses parou de tomar Rivotril porque domou a síndrome do pânico. Não tem mais nenhum comprimido nos armários. Na televisão passa uma sessão de cinema nacional. Por que sempre escolhem os piores filmes? Volta a fervilhar sua mente. Os brancos da parede ficam mais brancos nestas noites. Pensou em ligar para alguém. Sentiu que seria meio inconveniente telefonar na alta madrugada. Que droga de vida! Lamenta não ter um amigo, um único ser com que pudesse comungar alguma intimidade não fugaz. As horas avançam e Maria continua acelerada. Um infarto, um câncer, um tombo no banheiro, um atropelamento, um tijolo sobre a cabeça, uma bactéria, um assalto, uma infecção aguda e generalizada, um afogamento repentino, um tiro nas têmporas, uma dose excessiva de comprimido. Maria pensa na morte de várias maneiras, mas não tem coragem de ir adiante. Desespera a vida; desespera mais a ideia do desaparecimento. Maria nunca alcançou a doçura. Até seu sorriso é negro. O brilho dos olhos se perde nas imensas e negras olheiras. Ela admite a si mesma que assim não dá mais, que se faz necessário achar uma rota de fuga, uma alternativa para tanto desespero. Os pássaros começam a cantar no pé de limoeiro que plantou na janela de seu quarto. A claridade começa a tingir o espaço. A chuva fina escorre pela vidraça. Maria levanta com a cabeça pesada e o corpo alquebrado. Já na cozinha, começa a fazer o café da manhã. Uma imensa xícara de café preto para espantar o cansaço. No quarto, a televisão anuncia que a semana toda será de chuva, que o índice de desemprego aumentou, que uma mãe atirou seu filho, com apenas um ano e três meses, do viaduto central. Maria olha para dentro da xícara de café. Fica alguns minutos se procurando dentro da negritude matinal.