sábado, junho 27, 2015

Há uma quase histeria de partidos e candidatos em busca dos marqueteiros. Profissionais da política, já tentados e testados em outros pleitos, donos absolutos de um eleitorado cativo, mas insuficiente, se esbofam em melhorar o que chamam de "imagem".
Para conseguir essa melhoria, escondem o que têm de mais legítimo, de mais natural, e adotam a maquiagem preparada pelo  marketing.
Deixam de ser o que são e passam a ser o que os técnicos do mercado acham que deve ser. Isso inclui desde o corte do cabelo até o corte em alguns pontos essenciais do programa de cada um. Não se fala em moratória, em FMI, em concentração de renda. O discurso tem de ser politicamente correto, "light", sem ameaças ao capital e sem ameaças a ninguém, o que significa, na realidade, uma ameaça concreta para a grande maioria dos cidadãos.
Fica assim a vida política nacional igualada às telenovelas e dos programas de auditório, quem determina o que vai para o ar é o índice de audiência. O próximo presidente da República terá de ser o produto final da expectativa de um público e não de um povo.
Já tivemos laboratórios desse novo tipo de eleição. Collor se vestia melhor. Lula tinha a barba mal cuidada. Fernando Henrique Cardoso era poliglota; Lula, monoglota. O professor contra o ex-operário.
Dentro do que os marqueteiros chamam de cenário, irá para o trono aquele que for melhor produzido, e não aquele que saiba produzir. É o nosso país, Brasil.
Carlos Heitor Cony

quinta-feira, junho 25, 2015

Diante da vida, eu jamais tenho o prazer do espetáculo.   
Eu vivo.  Isso de morrer não tem importância, o importante é viver
um pouco agitando e encantando a vida. 
Pra mim, viver é gastar a vida.

Mário de Andrade

quarta-feira, junho 24, 2015

A Educação no Brasil está guardada pelos incompetentes - é tudo que eu sei.
Meu fado é não entender quase tudo, tudo isso, pena dos meninos do Brasil.
Sobre o qual sei o nada...e apesar de tudo - eu tenho profundidade no assunto.
Não cultivo conexões com os gabinetes, os as grandes mesas de reuniões onde tudo segundo eles, tudo acontece, ou seja, o nada.
Para mim, poderoso não é aquele que descobre o que ensinar como se fosse ouro,
Poderoso para mim é aquele que descobre nas insignificâncias do mundo o que mais precioso ha nas pessoas.
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei muito emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.
Manoel de Barros

terça-feira, junho 23, 2015


Um autor escreveu apenas uma peça de teatro, a ser encenada uma única vez, e naquele que, era em sua opinião, o melhor teatro do mundo, dirigida pelo, também em sua opinião, o melhor diretor do mundo e representada apenas pelos melhores atores do mundo. Esse autor acomodou-se, antes ainda de abertas as cortinas da noite de estreia, no local mais apropriado da galeria, invisível ao público, lá ele posicionou seu fuzil automático e, abertas as cortinas, pôs-se a disparar um tiro mortal na cabeça de todo espectador que, em sua opinião, risse no momento errado. No final da apresentação, só restavam no teatro espectares mortos. Durante toda a encenação, os atores e o administrador do teatro não se deixaram perturbar um só instante pelo autor obstinado e seus tiros.

Niclaas Thomas Bernhard

segunda-feira, junho 22, 2015

Sobre as pesquisas científicas, ratos brancos murmuram nos laboratórios: "Eles não se atreveriam a fazer isso com os ursos polares".

Ramón Gómez de la Serna

domingo, junho 21, 2015

Todo o meu esforço canalizo para a vida. Não para o equilíbrio, não para as certezas. Sigo suportando nas costas todo o peso da desesperança, pois que a esperança, é ridículo, dramático, que a humanidade ainda precise dela.
Esperança em quê? Em remédios que curem?... Em poemas que se dão de mão em mão? E as cartas sem resposta? E os becos sem saída? E a nova hipocrisia?
E o deus-dinheiro que nos espreita a cada esquina?... E a áfrica? E a America Latina?...
E todas essas universidades e tantos analfabetos?...
Toda gente sabe a extensão da verdade: surpreendendo a paisagem esfomeada, o gatilho já não precisa do dedo de ninguém.