O ciúmes
O ciúme é uma coisa muito triste. Produto
secundário de um coração inseguro — e que teme amar de verdade. Demonstração de
um certo sentimento inexplicável de inferioridade latente. Deselegante ao
extremo. E o que é pior: causa mais dor em quem o sente do que na vítima
propriamente. O ciumento não é necessariamente um maldoso, mas é sempre um
sofredor. Suspeita de tudo e de todos. Vive procurando fantasmas quando poderia
estar dançando. Sofre muito quando descobre ter razão no que supõe — mas sofre
mais ainda quando fica em dúvida sobre a fidelidade requerida.
Como todo gesto autoritário irracional, o ciúme
acaba interrompendo o fluxo do amor, estraçalha a poesia do romance, e suspende
a vida por momentos infinitos. Restringe. Chega quase a sufocar.
Numa relação que até nasceu maravilhosa e bem poderia continuar sendo
de amor pleno e delicioso, o ciúme se instala como um bicho feio — que
assassina a paixão de pouco em pouco e massacra a liberdade no final.
É uma coisa tão feia, que poucos assumem tê-la tanto.
É uma espécie de câncer...
Pense no que acabo de dizer.
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