sábado, janeiro 30, 2016

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece tua alma! É a alma que estraga o amor. Só nas ilusões divinas a alma pode encontrar satisfação. Não em outra alma. Só emum deus ou fora do mundo. As almas são incomunicáveis. Deixa então seu corpo estender-se com outro corpo, porque os corpos se entendem, mas as almas não. 

Manuel Bandeira

sexta-feira, janeiro 29, 2016

Não chame o meu amor de Idolatria 
Nem de ídolo realce a quem eu amo, 
Pois todo o meu cantar a um só se alia,
E de uma só maneira eu o proclamo. 
É hoje e sempre o meu amor galante, 
Inalterável, em grande excelência; 
Por isso a minha rima é tão constante
A uma só coisa e exclui a diferença. 
'Beleza, Bem, Verdade', eis o que exprimo; 
'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento; 
E em tal mudança está tudo o que primo, 
Em um, três temas, de amplo movimento. 
'Beleza, Bem, Verdade' sós, outrora; 
Num mesmo ser vivem juntos agora.

WS

quinta-feira, janeiro 28, 2016

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma 

quarta-feira, janeiro 27, 2016

Ainda há pouco, era apenas uma estrela
Uma imensa tocha antes do mergulho
Agora vem à tona
Sua ira é intensa
E você deseja saber

Se há algo
Que possa acalmá-lo outra vez
Os pássaros
A lua cheia e todo o céu leitoso
E todas as formas da natureza
Mostravam a grandeza do mundo
Em lágrimas

Condenado como Ulisses
E como príamos
Morto com seus companheiros
Morto com seus companheiros
Morto.... Apareceu
No momento em que a lua ia se elevando
E todo pranto forma a imagem do homem

terça-feira, janeiro 26, 2016

Como é por dentro outra pessoa? Quem é que o saberá sonhar? A alma de outrem é outro universo, com que não há comunicação possível, nem há verdadeiro entendimento. Nada sabemos da alma, senão da nossa. As almas dos outros são olhares, são gestos, são palavras, supondo-se qualquer semelhança no fundo. Entendemo-nos porque nos ignoramos. A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver. 
Fernando Pessoa

segunda-feira, janeiro 25, 2016

Mas olhe para todos ao seu redor e veja o q temos feito de nós e a isso considerado vitória de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. 
Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. 
Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. 
Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. 
Temos construído catedrais, e ficando do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. 
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. 
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. 
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. 
Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. 
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. 
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no q realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. 
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. 
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. 
Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. 
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. 
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia 
Clarice Lispector

domingo, janeiro 24, 2016

 TALVEZ QUEM SABE ...
Talvez, quem sabe um dia, por uma alameda do zoológico, ela também chegará. Ela, que também amava os animais, Entrará sorridente assim como está na foto sobre a mesa. Ela é tão bonita, ela é tão bonita que, na certa, eles a ressuscitarão. O século trinta vencerá o coração destroçado já pelas mesquinharias. Agora vamos alcançar tudo o que não podemos amar na vida com o estrelar das noites inumeráveis. Ressuscita-me, ainda que mais não seja por que sou poeta e ansiava o futuro. Ressuscita-me lutando contra as misérias do cotidiano. Ressuscita-me, por isso ressuscita-me. Quero acabar de viver o que me cabe, minha vida, para que não mais existam amores servis. Ressuscita-me para que ninguém mais tenha De sacrificar-se por uma casa, um buraco. Ressuscita-me para que a partir de hoje, a partir de hoje, a família se transforme e o pai seja pelo menos o universo e a mãe seja no mínimo a terra, a terra, a terra.

Maiakovski