sábado, fevereiro 07, 2015

Estes senhores da cidade, senhores compenetrados que já não sabem dançar à noite sob o luar, que já não sabem andar sobre a carne de seus pés, que já não sabem contar histórias noite adentro!... ora, escuta mundo branco! escuta nos seus argumentos grandiosos o seu miserável estertor. quanto a nós, negros, só nos resta a piedade. piedade para os nossos vencedores oniscientes e ingênuos! 
Léopold Senghor

sexta-feira, fevereiro 06, 2015

Sucatas...
Acho que a sucata tem mais valor para os artistas de hoje do que as joias pendentes. Acho que o desejo de Clarice Lispector veio disso, quando ela gritou: “Eu quero escrever a sucata das palavras”E quando Clarice Lispector diz isso, ela quis dizer: “é preciso aprender a ler por trás do pensamento”

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

A patafísica é a ciência das soluções imaginárias. 
A patafísica está para a metafísica assim como a metafísica está para a física. 
Mais: a patafísica ultrapassa a metafísica mais do que a metafísica ultrapassa a física.

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Enquanto me davam a extrema-unção,
Eu estava distraído...
Ah, essa mania incorrigível de estar sempre
pensando noutra coisa!
Aliás, tudo é sempre outra coisa
E, enquanto a voz do padre zumbia como um besouro,
Eu pensava era nos meus primeiros sapatos
Que continuavam andando, que continuam andando,
Até hoje....Pelos caminhos deste mundo.
 Mário Quintana

terça-feira, fevereiro 03, 2015

O medo de ser...

Provisoriamente não cantaremos o amor,
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços...
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, e medo das mães, e medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nosso túmulos nascerão flores
amarelas e medrosas.
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Não, não quero nada.
Já disse que não quero nada

Não me venha com conclusões!
A única conclusão é morrer

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!)
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu?

Se têm a verdade, guardem-na!

Fora disso sou doido, com todo direito a sê-lo
Com todo direito a sê-lo, não me amolem pelo amor de Deus!
 Fernando Pessoa

domingo, fevereiro 01, 2015

A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não entender quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não cultivo conexões com o real.
Para mim, poderoso não é aquele que descobre ouro,
Poderoso para mim é aquele que descobre as insignificâncias
do mundo e nossas.
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei muito emocionado e chorei, sim EU chorei, afinal....
Sou fraco para elogios.

 Manoel de Barros