sábado, dezembro 26, 2015

A alma humana é um manicômio de caricaturas. Se uma alma pudesse revelar-se com verdade, nem houvesse um pudor mais profundo que todas as vergonhas conhecidas e definidas, seria, como dizem da verdade, um poço, mas um poço sinistro cheio de ecos vagos, habitado por vidas ignóbeis, viscosidades sem vida, lesmas sem ser, ranho da subjetividade. Eis a alma.
Bernardo Soares

sexta-feira, dezembro 25, 2015

                                                       Povo e o Brasil
O Brasil ainda tem sorte de ser povo talvez, porque povo é uma palavra com eco. Todo mundo usa essa palavra, mas ninguém sabe direito. Mas eu posso dizer a vocês que a passageira do meu lado, viúva, 60 anos, tem dois gatos de que gosta e dois netos de que não. Os gatos ela comanda, os netos é uma batalha. Sobre este mundo e o outro sabe tudo, ela vê televisão. O país não tem remédio, ninguém tem mais trabalho, os que tem não querem trabalhar, os políticos só roubam, nem vale a pena falar. Aproveita e volta ao sério: sério para ela são as telenovelas, então ela fala sem parar. Ela fala de Big Brother, ela fala da Fazenda, ela fala do Raul Gil, ela fala do povo brasileiro. A passageira do lado é o passageiro em geral, o povo. O louvado povo por discursos e jornal. Há que começar do ovo, porque alguma coisa andou mal.
Então é Natal.

quinta-feira, dezembro 24, 2015

Para Marcel Proust, a maioria considera claras as ideias que estejam tão confusas quanto as suas.
Para Anatole France, uma besteira dita por milhões de bocas não deixa de ser uma besteira.
Para Schiller, o bom senso tem sido de poucos, seria bom pesar os votos, ao invés de contá-los.
Para  Ideilson, a vida só é valida se cada dia nascemos de novo.  

Feliz Natal

quarta-feira, dezembro 23, 2015

O que me basta?
A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida, o cinema, o teatro: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.
 Martha Medeiros

terça-feira, dezembro 22, 2015

 Viajar! Perder Países

Ser outro constantemente

Por a Alma não ter raízes

De viver de ver somente


Não pertencer nem a mim

Ir em frente, Ir a seguir

A ausência de ter um fim

E da ânsia de o conseguir


Viajar assim é viagem

Mas faço-o sem ter de meu

Mais que o sonho da passagem

O resto é só terra e céu


Fernando Pessoa

segunda-feira, dezembro 21, 2015

Se eu soubesse algo que me fosse útil, mas prejudicial à minha família, eu rejeitaria. Se eu soubesse algo que fosse útil à minha família, mas prejudicial ao meu país, eu esqueceria. Se eu soubesse algo que fosse útil ao meu país, mas prejudicial à humanidade, eu consideraria esse algo um crime.
 Charles de Montesquieu

domingo, dezembro 20, 2015

E depois de fazer tudo o que fazem, levantam-se, tomam banho, cobrem-se de talco, perfumam-se, penteiam-se, vestem-se, e assim progressivamente vão voltando a ser o que não são.
Julio Cortázar