sábado, setembro 13, 2014

Eu não queria...
Eu quero absorver intensamente toda a tristeza do mundo
As esperanças não alcançadas
Os filhos que não nasceram
O pranto das mães desconsoladas...
Quero sentir profundamente toda a dor
A dor de não ter amor, não ter paz,
Não ter futuro.
Pelo trabalho rotineiro de cada dia
A comida sem graça e fria
A desigualdade, a injustiça, o olhar distante,
A dor, toda a dor da infelicidade.
Quero aguardar a catástrofe silenciosamente
Com o meu cansaço estafante e descomedido
Pelo excesso das palavras, das mentiras, das ilusões
Dos pesadelos, tantos.
O horizonte se distanciando... longe... longe.
Quero chorar muito... Quero chorar muito
Sem nenhum constrangimento
Sem parar, sem parar.
Quero ser tragado pela realidade
E me esconder na sombra da minha insignificância
Para que num momento distante – se houver,
Eu possa despertar para um mundo
Agradável e melhor.

Nilson Oliveira

sexta-feira, setembro 12, 2014

A vida e a poesia.
Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para a poesia
O homem que possui um pente
e uma árvore serve para poesia
Terreno de 10×20, sujo de mato – os que
nele gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem para poesia
Um chevrolé gosmento
Coleção de besouros abstêmios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia
As coisas que não levam a nada
têm grande importância
Cada coisa ordinária é um elemento de estima
Cada coisa sem préstimo
tem seu lugar na poesia ou na geral
O que se encontra em ninho de joão-ferreira:
caco de vidro, garampos,
retratos de formatura,
servem demais para poesia
As coisas que não pretendem, como
por exemplo: pedras que cheiram
água, homens
que atravessam períodos de árvore,
se prestam para poesia
Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia
As coisas que os líquenes comem
- sapatos, adjetivos -
tem muita importância para os pulmões
da poesia
Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita, pisa e mija em cima,
serve para poesia
Os loucos de água e estandarte
servem demais
O traste é ótimo
O pobre-diabo é colosso
Tudo que explique
o alicate cremoso
e o lodo das estrelas
serve demais da conta
Pessoas desimportantes
dão para poesia
qualquer pessoa ou escada
Tudo que explique
a lagartixa de esteira
e a laminação de sabiás
é muito importante para a poesia
O que é bom para o lixo é bom para poesia
Importante sobremaneira é a palavra repositório;
a palavra repositório eu conheço bem:
tem muitas repercussões
como um algibe entupido de silêncio
sabe a destroços
As coisas jogadas fora
têm grande importância
- como um homem jogado fora
Aliás, é também objeto de poesia saber
qual o período médio que um homem jogado fora
pode permanecer na Terra
sem nascerem em sua boca
as raízes da escória
As coisa sem importância
são bens de poesia
pois é assim
que um chevrolé gosmento
chega ao poema
e as andorinhas de junho

quinta-feira, setembro 11, 2014

      Até quando nossos governantes vão brincar com a educação do Brasil
Basta que se atente para os problemas da educação no Brasil para que o medo nos pegue pelo pescoço. Como levar esse país à frente com vinte milhões de analfabetos e um sistema educacional entregue quase que a mesma burocracia que Portugal instalou entre nós ao longo do século XVI. O trabalho dos grandes educadores brasileiros, um Anísio Teixeira, um Paulo Freire, um Fernando Azevedo, inspirou movimentos e provocou mudanças, mas sem a necessária continuidade. É como se uma geração posterior, julgando-se mais sábia, houvesse resolvido sempre interromper o que fora feito e sair em busca de novas soluções nem sempre consentâneas com a realidade.
 Antonio Olyntho

quarta-feira, setembro 10, 2014

                        Até quando vamos brincar com a educação de nossos filhos?

Especialistas internacionais afirmam que um país com as nossas características de desenvolvimento social e econômico deveria contar com oito milhões de alunos em nossa faculdade e universidade. Só assim poderíamos chegar a uma parcela realmente expressiva. Profissionais, pesquisadores que nos possibilitassem um progresso autônomo e autossustentado. Temos na realidade apenas dois milhões e trezentos mil jovens universitários. Como aceitar esse atraso? Talvez alguma de nossas autoridades nem saibam direito o que isso representa. Só se pode partir para uma análise objetiva da conjuntura educacional brasileira depois do estabelecimento de conceitos doutrinários e enfoque o que somos e o que queremos na prioridade das prioridades.
Antonio Olyntho

terça-feira, setembro 09, 2014

Já me fizeram muitas vezes esta pergunta: "Você quer destruir tudo, mas o que surgirá depois?" respondi com um trecho de um poema de Brecht:
"A parábola do Buda sobre a casa em chamas".
Buda disse: "uma casa estava pegando fogo. Havia gente lá dentro. Alguém gritou-me pela janela: Como está o tempo aí fora? Chovendo? Ventando?
"Afastei-me sem responder"
Margarida Von Brentano
Parabéns
Acorda, acorda minha Mulher! Hoje, tu aniversarias e aqui estou para dizer o quanto te amo. Valeram os sacrifícios que tu fizeste para mim.... sei que dia 21 mudara a estação, mas nosso amor não mudará...mas eu sei que alguma coisa aconteceu, estamos tão diferente... fortes, ungidos, somos dois que na verdade é um.

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou, quando penso em alguém, só penso em você...e aí então estou bem...mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está, não desistimos um do outro.. eu vivo eu amo chamar você de meu AMOR.


  

segunda-feira, setembro 08, 2014

                    Na Pessoa do Fernando
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
 Fernando Pessoa

domingo, setembro 07, 2014


Sei que às vezes uso palavras repetidas mas quais são as palavras  que nunca são ditas?
Não se espantem, meus amigos: tudo já foi dito alguma vez. Tudo. Mas como ninguém escuta, é preciso sempre, sempre dizer de novo.