sábado, janeiro 03, 2015

Estou lúcido. Estou vivo como as aves em migração. Começo por amar a realidade... Nunca declinei a vida. Mesmo que tudo esteja contaminado e sem reverso, é a vida que nos povoa; é a vida por inteiro que nos vive!
 António Teixeira e Castro

sexta-feira, janeiro 02, 2015

Fome, fOmE, FoMe...
Setecentos e setenta e sete milhões de famintos no mundo. Não, não são pobres, miseráveis, indigentes, é pior, são famintos! Gente desnutrida, esquelética, que se arrasta atrás de alguma coisa para não morrer de fome. Setecentos e setenta e sete milhões!
A ONU (Organização das Nações Unidas) acaba de anunciar que o mundo não conseguirá cumprir sua meta de diminuir esse número de famintos nos próximos 15 anos. Aliás, nem nos próximos 30 anos. Não pensem que esses milhões de famintos ficarão esperando. Eles morrerão de fome e terão seus lugares tomado por muitos outros milhões.
Falta comida? Não. A ONU prevê que a produção de alimentos, que já daria hoje pra alimentar o mundo algumas vezes, continuará a crescer muito mais rapidamente que a população do planeta. Isso quer dizer que os que já comem muito poderão comer ainda mais. E os que não comem, que tratem de morrer logo. Mas é pouca gente. Só Setecentos e setenta e sete milhões.
Eu não conheço no mundo um único governante favorável à fome, nenhum burocrata, economista, industrial, empresário, banqueiro, nenhum cientista, nenhum sociólogo, nenhum jornal, nenhuma revista semanal, nenhuma televisão, nenhum candidato a qualquer coisa que prometa continuar matando pessoas de fome.
Será então que são eles, os que morrem de fome, os que são a favor da fome? Não, não deve ser. Eu nunca vi famintos recusarem comida: “Não, não, não, por favor, não nos alimentem, nós preferimos morrer de fome”
Porque será então que milhões de pessoas morrem de fome? Certamente porque jamais saberão que o dólar anda estressado e o mercado está nervoso.
Gregório Bacic

quinta-feira, janeiro 01, 2015

Em Paris, um tratado gravemente firmado renova outro tratado longamente ajustado, pesado, blablablado, que tinha estruturado o muito fofocado acordo estipulado, agora validado e bem atualizado para ser destratado por um outro lado.
Tudo bem estimado, medido e conformado, eis que fica evidenciado:
Todo e qualquer tratado deve ser observado como papo furado.

Carlos Drummond de Andrade
O tempo, os crimes e o fogo.

Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
As ferozes televisões que mostram o mal

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino que chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o que há melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, dezembro 31, 2014

Ultimo dia de 2014 - Nota de falecimento

Morreu ontem a mãe da Barbie, a boneca adolescente. A filha que nunca será órfã, pequeno duende de sutiã 38 e de 33 polegadas de altura. 
Morreu a mãe da Barbie, que faz balé, esqui, patins em linha e todos os esportes radicais. Morreu a mãe da Barbie, que jamais a viu padecer de uma gravidez adolescente, nem desgosto, nem fome. 
Morreu a mãe da Barbie, que vai a todas as festas de gala e enegreceu há uns anos, qual Naomi Campbel, para ser consumida pela boa consciência racial do ocidente. 
Morreu a mãe da Barbie, morreu cedo demais para inventar uma Barbie de burka, ou com explosivos escondidos no cinto.

terça-feira, dezembro 30, 2014

Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?
És importante para ti, porque é a ti que te sentes. 
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.  
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?
 Álvaro de Campos

segunda-feira, dezembro 29, 2014

Todas as cartas de amor são Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,  Têm de ser Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor
É que são Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso
Cartas de amor Ridículas.
A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor
É que são Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos

domingo, dezembro 28, 2014

Vejam o que saiu no jornal há poucos dias: Morte de fumante ajuda economia, diz Philip Morris. 
A companhia americana de cigarros disse ao governo da República Tcheca que a morte prematura de fumantes por câncer tem um impacto positivo nas finanças do país. Segundo a Philip Morris a cada fumante morto o governo deixa de gastar dinheiro na área de saúde e livra-se de pagar aposentadoria. Além disso, o morto abre uma vaga no mercado de trabalho em favor de um desempregado. 
Essa talvez seja a maior e mais cínica provocação dos últimos e dos próximos anos! Ou será que eles estão certos? 
Será que é preciso morrer pra resolver as coisas? Bem, tem outra provocação: o espaço tão pequeno que os jornais e a TV abriram para esse assunto.

22/07/2001