O Orgulho de ser, mesmo sem saber.
Sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor?
E o que é ser brasileiro com muito orgulho e muito amor?
E vestir a camisa a cada mundial ou pintar as ruas?
Colocando bandeiras nos carros?
É aceitar a falta de remédio ou de medico?
É lutar contra moinhos de ventos?
É gritar sem ser ouvido.
Sou o que mesmo?
sábado, junho 20, 2015
sexta-feira, junho 19, 2015
Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceite o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gaffe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.
Clarice Lispector
quinta-feira, junho 18, 2015
Chega um tempo em que não se
diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, a fome, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de Andrade
quarta-feira, junho 17, 2015
Nada mais surpreendente do que ver com que facilidade a maioria é governada pela minoria.
É observar ao longo da história a submissão implícita com que os homens sujeitam seus sentimentos e paixões aos de seus governantes.
De que modo se realiza esse prodígio?
Como são os governados que detêm a força (apenas eles, a maioria, não sabem disso!).
Os governantes nada têm por respaldo senão a opinião pública.
É somente na opinião pública que se fundamentam os governos, desde os mais despóticos e militarizados até os mais liberais e populares.
Não é, por isso, estranho o quanto mentem os poderosos com a ajuda dos meios de comunicação.
David Hume
terça-feira, junho 16, 2015
O PAÍS DE UMA NOTA SÓ – CARLOS MARIGHELLA
O
país de uma nota só
Não
pretendo nada, nem flores, louvores, triunfos.
Nada
de nada.
Somente
um protesto, uma brecha no muro, e fazer ecoar, com voz surda que seja,
e
sem outro valor, o que se esconde no peito, no fundo da alma de milhões de
sufocados.
Algo
por onde possa filtrar o pensamento, a idéia que puseram no cárcere.
A
passagem subiu, o leite acabou, a criança morreu......
a
carne sumiu,
o IPM
prendeu,
o
DOPS torturou,
o
deputado cedeu,
a
linha dura vetou,
a
censura proibiu,
o
governo entregou,
o
desemprego cresceu,
a
carestia aumentou,
o
Nordeste encolheu,
o
país resvalou.
Tudo
dó,
tudo
dó,
tudo
dó…
E
em todo o país
repercute o tom
de uma nota só…
de uma nota só…
Poesia
de Carlos Marighella.
segunda-feira, junho 15, 2015
domingo, junho 14, 2015
Eu vi tuas crianças
Destruídas como lagartas por
Uma centena de noviças abutres,
Seviciadas pela ausente luminosidade
Da natureza criadora.
Havia um azul imparcial
Vigiado pelas sanguessugas baratinadas
Pelo telhado roído.
Um jardim de ondazul sempre
Grande, pousava beija-flores
Nos seus olhos vazados,
É devorado com paciência
Pela paisagem de morfina.
Enquanto o mundo dos insatisfeitos
Semeava o antigo clamor
Da crucifixação encarnada.
Eu vi o horror no reino do interno,
Onde adolescentes católicos
Percorrem os corredores
Tingindo seus olhos com lágrimas
Vulneráveis negras sodomizadas
Nos banheiros.
E as pobres cabeças cartesianas
Digerem o aquário, onde os mortos
Vagam na noite normal, cumprindo percurso,
Procurando um anjo de fogo
Iluminado.
Onde a cabeça é uma batata
Submersa no vidro de picles,
Conservado por góticas beatas,
Reino-vertigem glorificado
Espectro vibrando espasmos.
Há um sino que toca,
Chamando as ovelhas desgarradas,
A catedral na desordem se decompõe
Nos pavimentos, onde o sopro de vida bate
Pelos ventiladores, os pássaros,
As nuvens costuram o espaço avermelhado
De um céu com dentes.
As crianças com a mente
Racham-se de encontro às hélices,
A plenitude da alma despedaçada
Roda rodando como teus olhos
Diminuem na paisagem,
Derramando o grito.
Horizonte branco de asas devoradas
Na bacia embebida de sangue,
Janelas trancadas do caos.
Enquanto velhas histéricas
Distribuem bombons
Aos anjos desolados.
Destruídas como lagartas por
Uma centena de noviças abutres,
Seviciadas pela ausente luminosidade
Da natureza criadora.
Havia um azul imparcial
Vigiado pelas sanguessugas baratinadas
Pelo telhado roído.
Um jardim de ondazul sempre
Grande, pousava beija-flores
Nos seus olhos vazados,
É devorado com paciência
Pela paisagem de morfina.
Enquanto o mundo dos insatisfeitos
Semeava o antigo clamor
Da crucifixação encarnada.
Eu vi o horror no reino do interno,
Onde adolescentes católicos
Percorrem os corredores
Tingindo seus olhos com lágrimas
Vulneráveis negras sodomizadas
Nos banheiros.
E as pobres cabeças cartesianas
Digerem o aquário, onde os mortos
Vagam na noite normal, cumprindo percurso,
Procurando um anjo de fogo
Iluminado.
Onde a cabeça é uma batata
Submersa no vidro de picles,
Conservado por góticas beatas,
Reino-vertigem glorificado
Espectro vibrando espasmos.
Há um sino que toca,
Chamando as ovelhas desgarradas,
A catedral na desordem se decompõe
Nos pavimentos, onde o sopro de vida bate
Pelos ventiladores, os pássaros,
As nuvens costuram o espaço avermelhado
De um céu com dentes.
As crianças com a mente
Racham-se de encontro às hélices,
A plenitude da alma despedaçada
Roda rodando como teus olhos
Diminuem na paisagem,
Derramando o grito.
Horizonte branco de asas devoradas
Na bacia embebida de sangue,
Janelas trancadas do caos.
Enquanto velhas histéricas
Distribuem bombons
Aos anjos desolados.
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