sexta-feira, agosto 28, 2015

Eu não quero o fácil, o manso, o maleável.
Não são para mim o claro, o concluso.
Eu quero o amargo, o áspero, o cortante fios das lâminas e o ardor.
Venha o impuro, o dolorido rasgar das entranhas e o derramar do fel garganta abaixo.
Abandonei as amplas claras praças, esquadrinhos, becos, as vielas esconsas inexatas.
Eu sigo no rumo estreito da incerteza com lascas me ferindo a palma e olho.
Entre cacos e gumes, entre gritos sem respostas.
E nem sei afinal se estou morrendo.


Deni Gomes

quinta-feira, agosto 27, 2015

Faz parte da cultura de um povo a ligação que vai de irmão
a irmão; o que sofre e o que não; a carência e a fartura.
Guerra de capoeira, Santos da devoção, orixás de terreiro canção.
A palavra, a pintura, a pedra, a construção são parte da cultura.
Porém, a quanta sede resistirá um cérebro?
Porém quanto é que pesa um pesadelo?
Quanta tristeza mata o sorriso e a alma?
Quanto tempo há num homem antes da morte?
Faz parte da cultura de um povo a sua altura de um povo o seu poder.
Cultura é o que é e o que pode ser.
A cultura de um povo é esse sofrimento todo,
E a alegria de um dia o povo renascer.


Renata Pallottini

quarta-feira, agosto 26, 2015

Diariamente reuniam-se para assistir aos noticiários de tv e aguardavam a programação noturna como um ritual familiar. Entre eles havia muita proximidade afetiva e poucas palavras balbuciadas nos intervalos comerciais. Entretanto, tinham um pacto de cumplicidade que dispensava a quebra do silêncio. Em algumas cenas, todos coravam, mas sabiam da vida o bastante para entender que muitas coisas não deveriam nunca dizer.

Ézio Deda

terça-feira, agosto 25, 2015

A criança come o barro pensando comer o ovo. Diz a gente grande: é verme. Não, é fome. A cena se repete, e ela pode comer o descampado inteiro. Uma besta rosnando quieta, babando como cão raivoso.Andemos por esse pátio ausente de morangos. Dividamos nossas fomes, bebamos nossos próprios sangues. A cidade é de Deus, aqui nunca é outono. Nem Bob Esponja faz rir o lábio do menino que descasca. Frieza no sol a pino de quarenta graus. Amamentemos de fúria a ética inventada pelo homem. Pois “cuspe” é a palavra inventada para engolir a seco a mosca que nos tornamos nós!
Araripe Coutinho

segunda-feira, agosto 24, 2015

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

domingo, agosto 23, 2015

Não quero alguém que morra de amor por mim...

Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.

Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim...

Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível...
E que esse momento será inesquecível...

Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre...
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.