sábado, março 07, 2015

Que importa a paisagem, a glória, a baía, a linha do horizonte ?
- O que eu vejo é o beco!
Manuel Bandeira
Essas coisas, quando caem no sangue, diluem consigo mesmas todos os tremores cardíacos. Essas coisas, nem tão completamente coisas, são corações e corpos, pequenas porções de um universo onde se enterram juntos o desejo e a teatralidade, álibis humanos de uma vida vagamente míope. Essas coisas, nem tão completamente coisas, são como silêncios e palavras: um eclipsa o outro.
Maurício Monteiro

sexta-feira, março 06, 2015

Um dramaturgo foi convocado ao tribunal por um espectador ofendido, que o acusava de manter no palco não atores, mas idiotas apresentando-se a um público desorientado. O dramaturgo declarou ao juiz que seu sucesso sempre fôra estrondoso apenas porque, ao contrário de seus colegas mal sucedidos, era honesto o bastante para apresentar suas comédias como tragédias e suas tragédias como comédias, sempre com a certeza do sucesso, e que o espectador se sentira ofendido porque era tão obtuso quanto milhões de outros espectadores no mundo todo. O juiz absolveu o dramaturgo, porque ele – juiz – odiava o teatro e tudo o que tinha a ver com ele. Ao deixar o tribunal, o dramaturgo disse que compartilhava desse sentimento.
Nicolaas Thomas Bernhard 

quinta-feira, março 05, 2015

O momento em que a casca da laranja está sendo retirada é a morte ou a vida?... Se o futuro da laranja é ser bagaço, seria o futuro feito do nada?... Após o uso único do que encobre sua casca, fica a laranja partida ou esculpida no ar?... Seria sua casca um escalpo num momento de dor e desonra?.. Ou seria a laranja um simples objeto em sua última morada, que é o caos da louça suja?
Eliana 

quarta-feira, março 04, 2015

Uma linguagem que corte o fôlego. Rasante, talhante, cortante. Essa deve ser a linguagem do poeta.
Linguagem de aços exatos, de relâmpagos afiados, de agudos incansáveis, de navalhas reluzentes.
Uma dentadura que triture o eu-tu-ele-nós-vós-eles.
Um vento de punhais que desonre as famílias, os templos, as bibliotecas, os cárceres, os bordéis, os colégios, os manicômios, as fábricas, as academias, os cartórios, as delegacias, os bancos, as amizades, as tabernas, a revolução, a caridade, a justiça, as crenças, os erros, a esperança, as verdades... a verdade!
Octavio Paz

terça-feira, março 03, 2015

Não basta fugir. É preciso fugir no bom sentido. Fugir do tédio, da fome, da guerra!... Não se deve fugir excentricamente. É preciso fugir concentricamente. Fugir o mundo, para poder reinventá-lo um dia. Quem sabe, maior, mais verdadeiro, mais essencial, mais justo.
Charles Ferdinand Ramuz

segunda-feira, março 02, 2015


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a -normalidade- é uma ilusão imbecil e estéril.

 Oscar Wilde

domingo, março 01, 2015

“O poder de moldar a República estará nas mãos dos jornalistas das futuras gerações”, escreveu o jornalista americano Joseph Pulitzer em 1904.
Ele próprio disse depois:
“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.

 Joseph Pulitzer