sábado, abril 25, 2015

“Os príncipes me dão muito quando não me tiram nada e me fazem bem bastante quando não me fazem mal; é tudo o que lhes peço.” 
MICHEL EYQUEM DE MONTAIGNE

sexta-feira, abril 24, 2015

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.

quinta-feira, abril 23, 2015

Desigualdade Social
“Hei moço, me dá um trocado? Eu tenho fome.”
Essa é a abordagem do menino no sinal fechado,
Pra enganar o estômago e o destino, é a aparente solução.

E todos os dias, a mesma figura sem sombra, sem nome,
Um corpo franzino, trajando farrapos e de pés no chão.
Visão do descaso, sensação de embaraço, é de apertar o coração,

Não sei o que mais me dói, se a triste visão do menino no sinal fechado,
Ou o que vejo no olhar de quem por ali passa, parecem olhar um animal.
Nenhuma demonstração de sentimento. (quando muito, o trocado).
Nenhuma compaixão à dor alheia, nem é notada, é algo normal.

Todos os dias essa cena se repete, tantos meninos em tantos sinais.
Histórias parecidas, pelos mesmos motivos e de causas iguais.
Quem me dera poder reescrever essa história em forma de verso e prosa,
Transformá-la em soneto e cancioneiro, em uma vida gentil e graciosa.

Gostaria que minhas palavras tivessem poder em sua forma e intensidade,
Poder este, de reescrever as linhas de algumas páginas da história
E moldá-las com as palavras certas, criando algo novo e sem igual,            
De modo a suprimir a existência de muitos males, apagá-los da nossa memória,

Começaria impedindo até mesmo a existência do termo: “desigualdade social”.

Wesley Henrique

quarta-feira, abril 22, 2015

Jamais experimente a Liberdade se você não for capaz de suportar a Solidão.

Eu diferencio claramente solidão de solitude: esta é voluntária e corajosa; aquela nos é imposta pelo Medo. Solidão é carência. Solitude é suficiência. A solitude tem beleza e esplendor: por isso, positiva. A solidão é humilhante, escura e melancólica: portanto, negativa. A primeira é saudável; a outra, uma doença. Solitude é coisa do indivíduo. In-divíduo. Inteiro. Único. Indivisível. Porém, a solidão vive sempre em busca de caras metades. Sempre pede companhia, implora companhia. Mas só companhia certamente não resolve. Tanto, que existe solidão a dois e solidão a mais. Escrevi até um livro, cujo título é Solidão a mil — com o duplo louco sentido que o termo sugere.

Mas o tema é complexo, e eu fico pensando. Será que você, você que não entende como posso ter feito ontem um jantar só pra mim — com luz de vela e tudo — será que você nunca passou uma noite inteira lendo um livro, sublinhando palavras ao acaso, cotovelos apoiados na mesa, as mãos e um belo copo de vinho suportando a cabeça dançante? Será que você nunca passou uma noite inteira sozinho, deliciando-se com você mesmo, solto e alegre — sem saber nem como amanhecer?

Pois então é preciso que eu te pergunte: Você é livre para vivenciar gostosamente a própria Solidão — se quiser — ou tem sempre que reparti-la com alguém?

O direito à solidão e a capacidade de exercê-lo plenamente são, para mim, mais importantes do que a solidão em si. Entretanto, como já disse, quando falo em solidão eu me refiro, mais apropriadamente, à solitude — que é algo muito além do que apenas estar sozinho. Aliás, eu adoro companhia! Mas tem que ser companhia inteligente, libertária, excitante, criativa e, preferencialmente, sensual. Quem não tem sensualidade transbordante não inspira um segundo sequer do meu tempo.

Edson Marques

terça-feira, abril 21, 2015

Sinal dos tempos!... antes, a questão era descobrir se a vida precisava ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, está evidente que ela será melhor vivida se não tiver significado.... Pode

segunda-feira, abril 20, 2015

A internet desvendou no google o que busquei pelos dicionários a vida inteira: enciclopédias, cabalas, cartas e posições assimétricas das estrelas. Tudo inútil. O homem só aprende a morte e o silêncio.

domingo, abril 19, 2015

O guardador de rebanhos


Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo)
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz

E corre um silêncio pela erva fora.