terça-feira, outubro 04, 2011

Texto de Edson Marques

De novo, vale a pena..

Meu bisavô, no início do século passado, aos 60 anos de idade, abandonou tudo e apareceu por aqui, trazendo no colo uma adolescente para ser sua mulher: uma enorme loucura...

Mas ele era um homem rebelde, um homem que não desistia. então abandonou tudo:
As propriedades e as impropriedades que a elas se ligam, a esposa controladora, os filhos perplexos, fazendas, noras, netos, e velhas emoções...
Tudo por Vitalina: por aquela menina delicada e de cabelos longos ele abandonaria o mundo.
Por ela, abandonou cabeças de gado e todas as "certezas" que lhe haviam dado.
Jogou fora o velho baú de premissas usadas. Pela possibilidade aberta de uma nova vida, tomou aquelas decisões que só os grandes homens conseguem tomar: montou o cavalo negro do risco absoluto e partiu!
Já sabia que o único crime que não tem perdão é desperdiçar a vida. Abandonou tudo para não ter que se abandonar, para não ter que abandonar a própria existência.
Não fosse por isso eu não estaria aqui, agora.
Sou, portanto, bisneto da rebeldia.
Bisneto da rebeldia, neto da emoção, filho da loucura, irmão do desejo, primo do prazer, amigo da liberdade, e amante de todos os meus amores.
E existo, por incrível que pareça!
No céu da minha boca não há fogos de artifício. Só estrelas!

Sêmen - Bráulio Tavares e Siba

Foi um sêmen plantado com meu nome nos antigos rincões da mata virgem. A raiz, de tão dura, ninguém come, porque nela plantei a minha origem. Ensinar o caminho eu não sei. Das mil vezes que lá passei, nunca pude guardar o seu desenho. Como posso saber de onde venho, se a semente profunda não toquei?
Como posso saber a minha idade se meu tempo passado não conheço?
Se a lembrança não tem capacidade, como posso me ver desde o começo?
Se não olho pra trás com claridade, que futuro obscuro aguardarei?
Como posso saber de onde venho se a semente profunda não toquei?
Tantos povos se cruzam nessa terra, que a roleta dos genes nunca erra: o mais puro padrão é o mestiço. Como posso pensar ser brasileiro, enxergar minha própria diferença, se olhando ao redor vejo a imensa semelhança que liga o mundo inteiro? Como posso saber quem vem primeiro, se o começo eu jamais alcançarei?
Como posso saber de onde venho se a semente profunda não toquei?