sábado, novembro 15, 2014

Meu caro amigo
A amizade é um pacto, uma convenção. Dois seres se comprometem tacitamente a nunca pôr à luz o que cada um no fundo pensa do outro. Um tipo de aliança fundada em arranjos. Quando um deles assinala em público os defeitos do outro, o pacto está devassado, a aliança rompida. Nenhum amizade dura se uma das partes se nega a jogar o jogo. Em suma, nenhuma amizade atura uma dose exagerada de franqueza.
 Emil Cioran

sexta-feira, novembro 14, 2014

Provisoriamente não cantaremos o amor, cantaremos o medo, que esteriliza os abraços...
não cantaremos o ódio porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, e medo das mães, e medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo depois da morte,depois morreremos de medo
e sobre nosso túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Drummond 

quinta-feira, novembro 13, 2014

Universalmente admite-se que o unicórnio é um ser sobrenatural e de bom agouro; Assim o declaram as odes, os anais, as biografias de varões ilustres e outros textos de indiscutível autoridade.
Até os párvulos e as mulheres de povo sabem que o unicórnio constitui um presságio favorável. Mas esse animal não figura entre os animais domésticos. Nem sempre é fácil encontrá-lo, não se presta a uma classificação.
Não é como o cavalo, o touro, o lobo, o cervo. Em tais condições poderíamos estar diante de unicórnio e não saberíamos com segurança que se trata dele. Sabemos que tal animal com crina é cavalo e que tal animal com chifres é touro, nós não sabemos como é o unicórnio.

quarta-feira, novembro 12, 2014

A Vitória Ama o Planejamento. A propósito: Como anda o teu Planejamento Estratégico Pessoal? 
Edson Marques
No momento em que se pensa ter compreendido tudo, se adquire no rosto uma expressão assassina de alguma coisa. Não há como compreender tudo. No edifício do pensamento, não encontrei nenhuma categoria em que pudesse pousar a cabeça. Em compensação, que belo travesseiro é o caos.
Emil Cioran

terça-feira, novembro 11, 2014

Um professor foi convocado ao tribunal por um aluno ofendido, que o acusava de manter em sala debates que o obrigava a pensar, mas ele o professor falará com leveza e alegria que parecia um idiota e o deixava desorientado. O professor declarou ao juiz que seu sucesso sempre fora estrondoso apenas porque, ao contrário da maioria que se conformara em reclamar da vida e de seus salários, era honesto o bastante para apresentar suas alunos comentários, conceitos, sistemas como tragédias e suas tragédias como comédias, sempre com a certeza da duvida, e que o aluno que  se sentira ofendido porque era tão obtuso quanto milhões de outros alunos no mundo todo. O juiz absolveu o professor, porque ele – juiz – odiava a comedia e tudo o que tinha a ver com ele. Ao deixar o tribunal, o professor disse que compartilhava desse sentimento.

Adaptado livre Thomas Bernhard

segunda-feira, novembro 10, 2014

A razão pela qual algumas pessoas acham tão difícil a vida é porque estão sempre a julgar o passado melhor do que foi, o presente pior do que é e o futuro melhor do que será.

 Marcel Pagnol.

domingo, novembro 09, 2014

O Professor - Edson Marques

A tabuada não basta. Como não bastam funções hiperbólicas, variáveis complexas, orações subordinadas. Não bastam Euclides e sua geometria, não bastam as teorias. O professor deve ensinar ao aluno a arte de viver com dignidade, com amor, com liberdade. 

Não basta falar das guerras, das batalhas, das conquistas — tem que ensinar o aluno a conquistar-se primeiro a si próprio. Ensinar-lhe medir distâncias é pouco — necessário vencê-las. Não basta saber o nome dos rios, temos que fluir. Equações algébricas não resolvem tudo, antes é preciso resolver-se. Em vez das mentiras históricas, o professor deve ensinar as verdades, e o melhor modo de encontrá-las. 

Não basta falar de política, o professor tem que ser democrata. Deve olhar nos olhos do aluno e dizer-lhe como a vida é. Aumentar-lhe a coragem de crescer. Ensinar-lhe a lógica das emoções e o amor pelo raciocínio. 

O professor transmite sabedoria, incentiva o bom senso e o bom gosto. Mergulha fundo no oceano de dúvidas que o aluno tem no coração, e traz o tesouro pulsante lá submerso. Educa, orienta, aviva a chama na consciência de cada. Ao polir a pedra bruta consegue intenso brilhante. 

Bom professor é aquele que não exige, não cobra — obtém. Não corrige — mostra o porquê. Não hesita quando avalia, não constrange quando examina. E nunca faz da nota uma espada.

O bom professor não só ensina, compreende. Não levanta a voz, amplifica o verbo, convence. É sério — mas ri da própria seriedade. Fala do êxtase, da alegria e da profunda emoção que explode no seu peito quando ensina, como pétalas no riso de quem ama. 

O professor mostra ao aluno a diferença entre o silogismo e a serpente. Ensina-o a extrair raiz quadrada com poesia. Demonstra como ser ousado sem ser burro. Jamais abusa da confiança do aluno, não lhe invade o espaço, não procura condicioná-lo. Não cria relações de dependência, nem exerce dominação sádica sobre ele. Infunde-lhe o respeito absoluto pela vida. Prefere o aluno criativo ao bem-comportado. Nunca o explora, é só o conquistador de um novo mundo, que leva o aluno a ver mais — mais alto e mais longe. 

Não levanta paredes em torno do aluno, e sim derruba aquelas que houver. Abre-lhe as portas da vida, com veemência. Não o repreende, não o censura, não o recrimina. Mostra ao aluno a importância da inteligência na determinação do seu futuro. O velho dilema entre a caneta e a vassoura... 

Como Sócrates, o bom professor não vê glórias no que sabe, não esconde o que conhece, nem oculta o que possa não saber. Brinca, tem confiança em si, e não faz da escola uma cela.

Moderno, convence o aluno a saltar os muros da tradição, porque a aventura está sempre do outro lado. Lógico, respeita aquele que aprendeu a questionar. Não o sufoca com preconceitos nem com juízos de valor. Nem lhe causa medo algum. Transmite confiança, pega na mão, aplaude, incentiva, suporta, conduz, ampara na travessia. 

Não é hipócrita, faz o que diz e diz o que pensa. É um farol que não vela o que descobre. Mostra um caminho. E não apenas mostra — demonstra, comprova, define. 

Aranha em teia de luz, o professor não prende — liberta. Carrega o giz como fosse uma flor, com amor. E quando faz a linha tem firmeza, mas não separa. Ora Dali, ora Picasso, vai colocando a tinta, pondo seu traço, amando seu gesto, compondo a canção. Enaltece o risco do sonho, o círculo do fogo, a pureza da alma, o princípio da vida, o anel da esperança. 

Considera o aluno obra de arte quase inacabada. Ama-o como se fosse um anjo. E nunca vai matar-lhe no peito a vontade de ser livre. 

O professor é o amigo sincero que ajuda o aluno a superar os limites da vida, desbravando com determinação e ousadia essa fantástica região chamada Experiência. 

Enfim — o professor é o Mestre.