O sexo contém tudo: corpos, almas,
sentidos, provas, purezas, delicadezas, resultados, avisos, cantos, ordens, o mistério materno, o leite seminal,
Todas as esperanças, todos os benefícios, todas as dádivas paixões, amores, encantos, gozos da terra, todos os deuses, juízes, governos, pessoas no mundo e seus seguidores.
Tudo está contido no sexo como parte dele ou como sua razão de ser.
Walt Whitman
sábado, outubro 10, 2015
sexta-feira, outubro 09, 2015
quinta-feira, outubro 08, 2015
Um autor escreveu apenas uma peça de teatro, a ser encenada uma única vez, e naquele que, era em sua opinião, o melhor teatro do mundo, dirigida pelo, também em sua opinião, o melhor diretor do mundo e representada apenas pelos melhores atores do mundo. Esse autor acomodou-se, antes ainda de abertas as cortinas da noite de estreia, no local mais apropriado da galeria, invisível ao público, lá ele posicionou seu fuzil automático e, abertas as cortinas, pôs-se a disparar um tiro mortal na cabeça de todo espectador que, em sua opinião, risse no momento errado. No final da apresentação, só restavam no teatro espectares mortos. Durante toda a encenação, os atores e o administrador do teatro não se deixaram perturbar um só instante pelo autor obstinado e seus tiros.
Niclaas Thomas Bernhard
quarta-feira, outubro 07, 2015
Essas coisas, quando caem no sangue, diluem consigo mesmas todos os tremores cardíacos. Essas coisas, nem tão completamente coisas, são corações e corpos, pequenas porções de um universo onde se enterram juntos o desejo e a teatralidade, álibis humanos de uma vida vagamente míope. Essas coisas, nem tão completamente coisas, são como silêncios e palavras: um eclipsa o outro.
Maurício Monteiro
terça-feira, outubro 06, 2015
No final da tarde, o poeta
Fecha as janelas, cerra
imaginadas cortinas,
encolhe suavemente as asas
e encara o mundo nas brancas quatro paredes. O tempo passeia finas unhas no final da tarde. O poeta mastiga o dia,
gosto neutro de sua boca que escorreu lerdo, morno, entre dedos inábeis e leves pancadas de chuva. No final da tarde, uma sombra se abaixa sobre as palavras. Sob as palavras, um abismo. E há ouro no céu de crepúsculo, há um besouro que agoniza na calçada, e ventos vindos do oeste.
Fecha as janelas, cerra
imaginadas cortinas,
encolhe suavemente as asas
e encara o mundo nas brancas quatro paredes. O tempo passeia finas unhas no final da tarde. O poeta mastiga o dia,
gosto neutro de sua boca que escorreu lerdo, morno, entre dedos inábeis e leves pancadas de chuva. No final da tarde, uma sombra se abaixa sobre as palavras. Sob as palavras, um abismo. E há ouro no céu de crepúsculo, há um besouro que agoniza na calçada, e ventos vindos do oeste.
Eunice Arruda
segunda-feira, outubro 05, 2015
Ó infelizes mortais, ó terra deplorável
Ó ajuntamento assustador de seres humanos! Eterna diversão de inúteis dores! Filósofos alienados que proclamam:“tudo vai bem”. Venham contemplar essas ruínas horrendas
esses destroços, esses farrapos, essas cinzas malditas, essas mulheres e essas crianças amontoadas sob mármores partidos, seus membros espalhados;
Cem mil desafortunados que a terra devora, que sangrando, dilacerados, e ainda palpitando enterrados sob seus tetos, sucumbem sem socorro, no horror de tormentas findando seus dias!
Diante dos gritos de suas vozes moribundas, do horror de suas cinzas ainda crepitantes, vocês dirão ;” é a conseqüência de leis eternas que um Deus livre e bom resolveu aplicar?!”
Vocês dirão, vendo esse amontoado de vítimas: “Deus vingou-se,e a morte deles é o preço de seus crimes?!”
Que crime, que falta cometeram essas crianças esmagadas e sangrentas sobre o seio materno? Lisboa, que não mais existe, teria mais vícios que Londres, que Paris, submersas em delícias?
Lisboa está destruída e dança-se em Paris.
espectadores tranqüilos , intrépidos espíritos, contemplando a desgraça desses moribundos, vocês procuram – em paz – as causas do desastre:
mas quando sentem os golpes dos fados inimigos, tornam-se mais humanos e choram como nós. creiam-me: quando a terra abre seus abismos, meu lamento é inocência e meu grito é verdade sempre cercados pelas crueldades do acaso,
pelo furor dos malvados, pelas armadilhas da morte experimentado o abalo de todos elementos,
companheiros de nossos males, permitam lastimá-los.
É o orgulho, dizem vocês, o orgulho sedicioso, que almeja que indo mal, nós possamos ser melhores. Vão interrogar as margens do tejo;
Escavem nos destroços dessa ruína sangrenta;
Perguntem aos moribundos nesse átimo de espanto se é o orgulho que grita “ Ó céu, socorre-me! Ó céu, tenha piedade da miséria humana!”
“Tudo vai bem – dizem vocês – e tudo é necessário”
Por acaso o universo, sem esse abismo, infernal, sem submergir Lisboa, estava sendo pior?
Ó ajuntamento assustador de seres humanos! Eterna diversão de inúteis dores! Filósofos alienados que proclamam:“tudo vai bem”. Venham contemplar essas ruínas horrendas
esses destroços, esses farrapos, essas cinzas malditas, essas mulheres e essas crianças amontoadas sob mármores partidos, seus membros espalhados;
Cem mil desafortunados que a terra devora, que sangrando, dilacerados, e ainda palpitando enterrados sob seus tetos, sucumbem sem socorro, no horror de tormentas findando seus dias!
Diante dos gritos de suas vozes moribundas, do horror de suas cinzas ainda crepitantes, vocês dirão ;” é a conseqüência de leis eternas que um Deus livre e bom resolveu aplicar?!”
Vocês dirão, vendo esse amontoado de vítimas: “Deus vingou-se,e a morte deles é o preço de seus crimes?!”
Que crime, que falta cometeram essas crianças esmagadas e sangrentas sobre o seio materno? Lisboa, que não mais existe, teria mais vícios que Londres, que Paris, submersas em delícias?
Lisboa está destruída e dança-se em Paris.
espectadores tranqüilos , intrépidos espíritos, contemplando a desgraça desses moribundos, vocês procuram – em paz – as causas do desastre:
mas quando sentem os golpes dos fados inimigos, tornam-se mais humanos e choram como nós. creiam-me: quando a terra abre seus abismos, meu lamento é inocência e meu grito é verdade sempre cercados pelas crueldades do acaso,
pelo furor dos malvados, pelas armadilhas da morte experimentado o abalo de todos elementos,
companheiros de nossos males, permitam lastimá-los.
É o orgulho, dizem vocês, o orgulho sedicioso, que almeja que indo mal, nós possamos ser melhores. Vão interrogar as margens do tejo;
Escavem nos destroços dessa ruína sangrenta;
Perguntem aos moribundos nesse átimo de espanto se é o orgulho que grita “ Ó céu, socorre-me! Ó céu, tenha piedade da miséria humana!”
“Tudo vai bem – dizem vocês – e tudo é necessário”
Por acaso o universo, sem esse abismo, infernal, sem submergir Lisboa, estava sendo pior?
Voltaire
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