sábado, outubro 11, 2014

Depois do 2°
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

sexta-feira, outubro 10, 2014

O convite
Se o anarquista que há em mim se junta com o ingênuo que há em você e propõe: "vamos fazer uma República Utópica?".
O princípio da realidade passa com a sirene aberta, pára e nos autua em flagrante.
Alex Polari

quinta-feira, outubro 09, 2014

Amor é quando é concedido participar um pouco mais.
Amor é a grande desilusão de tudo mais.
Amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter inclusive amor.
É a desilusão do que se pensava que era amor.
Amor não é prêmio por isso não envaidece.
Clarice Lispector

quarta-feira, outubro 08, 2014

Por si só, a realidade não vale nada. É a percepção que dá sentido à realidade.
Existe uma hierarquia entre as percepções, até sobre os sentidos. As mais refinadas e sensíveis figuram no topo.
Refinamento e sensibilidade se originam na única fonte possível: a cultura. Cultura, cujo instrumento principal é a linguagem.
A avaliação da realidade feita através de um prisma como este - a cultura - é, portanto, a mais precisa; provavelmente, a mais justa.
 Joseph Brodsky

terça-feira, outubro 07, 2014

O desbarato mais absurdo não é o dos bens de consumo, mas o da humanidade: milhões e milhões de seres humanos nasceram para ser trucidados pela História, milhões e milhões de pessoas que não possuíam mais do que as suas simples vidas. De pouco ela lhes iria servir, mas nunca faltou quem de tais miuçalhas tivesse sabido aproveitar-se. A fraqueza alimenta a força para que a força esmague a fraqueza. 
 José Saramago

segunda-feira, outubro 06, 2014

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres, é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?

O mar da história é agitado.
As ameaças e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio, cortando-as
como uma quilha corta as ondas.
Maiakoviski
A verdade é tudo aquilo que o homem precisa para viver, não pode ganhar nem comprar dos outros.
Todo homem deve produzi-la sempre no seu íntimo, se não ele se arruína.
Viver sem a verdade é impossível, mas não exagere o culto da verdade.
Não há um único homem no mundo, que não tenha mentido muitas vezes e com razão.
 Franz Kafka

domingo, outubro 05, 2014


Poemas não são para serem publicados
Poemas são Drag Queens
Rolando piteiras em puteiros ou somos nós,
Poetas velhos de caras borradas
Poetas de cinco centavos
Poemas não são para serem publicados


Poemas são para serem escritos
Às vezes rasgados
Às vezes guardados
Podem ser confessionais, imorais de vanguarda
Podem ser apenas a voz humílima do guarda
Podem ser criança



Mas em Geral
São sem esperança de serem publicados
Poemas custam caro e não fazem o mesmo efeito de um choque
Não fazem o efeito de um baseado
Poemas não servem para trepar nem nada



Nem sequer tente publicar seus poemas
Faça-os voltar calados às gavetas
Com eles ninguém se meta



Dormirão como dormem os drogados:
tristes, gelados, pesados
mas serão sempre únicos
Sempre ineditamente mediúnicos



Sempre salvos das graças das prebendas
Sempre coisas pudendas (ainda que sujos)



Poemas, sempre úmidos
Noviços, fim de feira
maus de venda e de vida.



Não são nem mesmo um incentivo à leitura,
pois quem vai ler linhas quebradas
oriundas de alma idem?

                                                                 Renata Pallottini