sábado, agosto 16, 2014

Porque hoje é Sábado
Quero lhe implorar
Para que seja paciente
Com tudo o que não está resolvido em seu coração e tente amar.
As perguntas como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira.
Não procure respostas que não podem ser dadas porque não seria capaz de vivê-las.
E a questão é viver tudo. Viva as perguntas agora.
Talvez assim, gradualmente, você sem perceber, viverá a resposta num dia distante.
Rainer Maria Rilke
Por si só, a realidade não vale nada. É a percepção que dá sentido à realidade.
Existe uma hierarquia entre as percepções, até sobre os sentidos. As mais refinadas e sensíveis figuram no topo.
Refinamento e sensibilidade se originam na única fonte possível: a cultura. Cultura, cujo instrumento principal é a linguagem.
A avaliação da realidade feita através de um prisma como este - a cultura - é, portanto, a mais precisa; provavelmente, a mais justa.
Sobre o autor: Joseph Brodsky

quinta-feira, agosto 14, 2014

Juventude nua, juventude sem destino envolvida com tua dor, que é dúvida...
Juventude nua, sem destino, juventude perdida, resultado do caos em que vivemos, um êxtase de lagrimas e sofrimentos.
Escuta o mundo racional e ao mesmo tempo insano que horrivelmente traça linha imaginarias da qual nunca veremos.
Escuta a ti mesmo observe tuas cidades e veja que eis meros animais de nossa fauna.
Nem sequer animas!
Juventude compenetrada que já não sabem dançar à noite sob o luar, que já não sabem andar sobre a carne de seus pés, que já não sabem contar histórias noite adentro.
Juventude nua, juventude sem destino, juventude cega envolvida na sua própria arrogância com tua dor, que é vida!
Tenha piedade de nossos vencedores oniscientes e ingênuos!

quarta-feira, agosto 13, 2014

Vendo as intermináveis entrevistas para as próximas eleições da vontade chorar. 
Como disse Miguel Torga "Preciso desabafar publicamente! Não posso mais com tanta lição de economia, tanta megalomania, tão curta visão do que fomos, podemos e devemos ser ainda, e tanta subserviência às mãos de poderosos sem valores!"

Ou melhor valores distorcidos, ou seja, seu próprios valores.

Tragédia Brasileira


Desta vez não vou falar da Educação ou da saúde ou ate mesmo da Segurança pública, simplesmente vou parafrasear Manoel Bandeira. afinal tem coisa que só acontece no Brasil. 
"Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo o que ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul."

Fiquei sabendo que vai passar em vários programas policiais e o autor do crime nunca foi encontrado. 

terça-feira, agosto 12, 2014

Disponibilizar o cargo

Não, por favor, nem tente me disponibilizar alguma coisa, que eu não quero. Não aceito nada que pessoas, empresas ou organizações me disponibilizem. É uma questão de princípios. Se você me oferecer, me der, me vender, me emprestar, talvez eu venha a topar. Até mesmo se você tornar disponível, quem sabe, eu aceite. Mas, se você insistir em disponibilizar, nada feito.
Caso você esteja contando comigo para operacionalizar algo, vou dizendo desde já: pode tirar seu cavalinho da chuva. Eu não operacionalizo nada para ninguém. Tampouco compactuo com quem operacionalize. Se você quiser, eu monto, eu realizo, eu aplico, eu ponho em operação. Se você pedir com jeitinho, eu até implemento. Mas, operacionalizar, jamais.
O quê? Você quer que eu agilize isso para você? Lamento, mas eu não sei agilizar nada. Nunca agilizei. Está lá no meu currículo: faço tudo, menos agilizar. Precisando, eu apresso, eu priorizo, eu ponho na frente, eu dou um gás. Mas agilizar - desculpe, não posso, acho que matei essa aula.
Outro dia mesmo queriam reinicializar meu computador. Só por cima do meu cadáver virtual! Prefiro comprar um computador novo a reinicializar o antigo. Até porque eu desconfio que o problema não seja assim tão grave. Em vez de reinicializar, talvez seja o caso de simplesmente reiniciar, e pronto.

Por falar nisso, é bom que você saiba que eu parei de utilizar. Assim, sem mais nem menos. Eu sei, é uma atitude um tanto quanto radical da minha parte, mas eu não utilizo mais nada. Tenho consciência de que a cada dia que passa mais e mais pessoas estão utilizando, mas eu parei. Não utilizo mais. Agora eu só uso. E recomendo. Se você soubesse como é muito mais elegante, também deixaria de utilizar e passaria a usar.
Sim, estou me associando à campanha nacional contra os verbos que acabam em "ilizar". Se nada for feito, daqui a pouco eles serão mais numerosos do que os terminados simplesmente em "ar". Todos os dias os maus tradutores de livros de marketing e administração disponibilizam mais e mais termos infelizes, que imediatamente são operacionalizados pela mídia, reinicializando palavras que já existiam e eram perfeitamente claras e eufônicas.
A doença está tão disseminada que muitos verbos honestos, com currículo de ótimos serviços prestados, estão a ponto de cair em desgraça entre pessoas de ouvidos sensíveis. Depois que você fica alérgico a disponibilizar, como você vai admitir, digamos, "viabilizar"? É triste demorar tanto tempo para a gente se dar conta de que "desincompatibilizar" sempre foi um palavrão.
Precisamos reparabilizar nessas palavras que o pessoal inventabiliza só para complicabilizar. Caso contrário, daqui a pouco nossos filhos vão pensabilizar que o certo é ficar se expressabilizando dessa maneira. Já posso até ouvir as reclamações: "Você não vai me impedibilizar de falabilizar do jeito que eu bem quilibiliser". Problema seu. Me inclua fora dessa.
 Ricardo Freire

segunda-feira, agosto 11, 2014

Amigos.
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

domingo, agosto 10, 2014

Todo dia

Ele é sossegado demais, pouco disciplinado, e fala pouco. Domina a arte da sedução, é íntimo dos números, nunca me ensinou o que viver. Ele nunca prestou dizia minha avó. Nasceu para o comando. (...) Exagerado, tem seus momentos de exageros e de vez em quando faz almoços festivos principalmente sua moqueca de arraia.  É comum ficar na sua varanda a observar a vida passar. Ele nunca me disse que gostava de poesia, ou tipo de musica que o agrada. Ficamos 40 anos separados, acho que preciso fazer uma viagem longa com ele de preferencia sem destino. Depois em uma praia qualquer ficar observando o por do sol e revelar nossos maiores e mais secretos segredos, coisa que não se conta nem para um padre. Quero aproveitar minha vida e conhece-lo de verdade meu velho e hoje amigo meu Pai.