Venham leis e homens de balanças, mandamentos daquém e dalém mundo venham ordens, decretos e vinganças, desça o juiz em nós até ao fundo. Nos cruzamentos da cidade, brilhe, vermelha, a luz inquisidora. Risquem no chão os dentes da vaidade e mandem que os lavemos à vassoura a quantas mãos existam, peçam dedos para sujar nas fichas dos arquivos não respeitem mistérios, nem segredos, pois que é natural nos homens serem esquivos. Ponham livros de ponto em toda a parte, relógios a marcar a hora exata. Não aceitem outra arte, que não sejam inquérito, local e data. Mas quando nos julgarem bem seguros,cercados de bastões e fortalezas, hão-de cair em estrondo os altos muros. E chegará o dia das surpresas.
José Saramago
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