Quando eu não te tinha...
Amava a Natureza como um monge calmo a
Cristo...
Agora Amo a Natureza como um monge calmo
a Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e
próxima...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até a beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor — Tu não me tiraste
a Natureza...
Tu mudaste a Natureza...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de
mim.
Por tu existires, vejo-a melhor, mas a
mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo,
mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e para
te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais
demoradamente
Sobre todas as coisas.
Não me arrependo do que fui outrora
Por que ainda o sou.
Alberto
Caeiro
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