Os Senhores das Guerras
O megacowboy, vestindo armadura de carapaças de armadillo à prova de tiro, divide o mundo em adeptos do mal e cruzados do bem.
Revestindo uma couraça de raios laser à prova de bazucas, não ouve o clamor dos pais da pátria, ignora a biblioteca de Jefferson, ele próprio, arquiteto de sua mansão numa época em que se chegou a pensar em adotar o grego clássico, em vez do inglês, como idioma da nova república que antecipou a revolução francesa, que inspirou os libertadores da hispano-américa e os inconfidentes de Minas.
O megamacrosuperherói do bem não está interessado em ouvir mais nada. Nem repara quando Martin Luther King apresenta afro-condolências a uma afro-americana condoleezza verde-hira ferrúgeo-parda como a estátua da liberdade vista de perto.
O supermacromegacowboy vestido de "mariner" chegou ao limite.
Seus olhos azuis são um frio risco de aço: basta de ônus onerosas e inoperosas!
Basta de franceses amolecidos e decadentes e de alemães desleais!
Vênias dadas ao trêfego blair e aos dois porta-vozes de eurodireita: o asinino Aznar, ostentando as medalhas do generalíssimo, e o mafioso Berlusconi, com bufos esgares de Mussolini.
Os dois olhos azuis são agora um único risco de aço.
O dedo no comando está prestes a apertar o botão. O ar tem um ataque cardíaco.
A primeira bomba, como um ovo de assombro, tomba lá onde foi o Zigurat de Babel, ali onde a rainha Semíramis passava tardes amenas e odorantes em seus jardins suspensos.
Haroldo de Campos
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