Podemos chamar de Brasil
Oleg Svinorg foi o único náufrago que conseguiu chegar à terra firme. O navio afundara ao lago e todos se afogaram somente Oleg, um gigante de dois metros de altura teve forças para nadar até a praia. E ele nem sabia que praia era, um náufrago se salva em qualquer pedaço de terra. Encontrou desolação a sua volta, campos cobertos de capim, rios apodrecidos e em toda parte miseráveis que nem puderam socorrê-lo porque estavam mais famintos e desesperados do que Oleg. Perguntou se havia alguma coisa equivalente a um poder naquela ilha. Não exatamente um governo, mas uma comissão qualquer que cuidasse de melhorar as condições em que todos viviam. Sim, sim, claro. Havia uma comissão de notáveis que trabalhavam dia e noite para reformar o que fosse preciso. Aí sim a ilha conheceria a prosperidade que todos desejavam. Oleg procurou saber onde se reuniam os salvadores da ilha. Foi lá e viu umas quinhentas pessoas discutindo se no país em dificuldade a taxa de câmbio deveria ser super ou inferior a 6,2%, se os maiores a 60 anos teriam direito ao redutor de 25% acrescido pelo coeficiente do tempo de serviço, embora não houvesse serviço algum naquela ilha. Um pequeno grupo escrevia tudo o que era discutido e comunicava o de tempos em tempos essa novidade ao resto da ilha, mas ninguém entendia como iam ficar as coisas e dava tudo na mesma. O mais importante que inflamava corações e mentes era a taxa de juros. Estava altíssima e havia uma turma que achava a inflação pior do que a fome e o desemprego que atingia a todos. Para combatê-la, os juros deveriam ser aumentados disciplinando o consumo porque ninguém consumia nada. Oleg ouviu tudo e entendeu pouco, mas o bastante para atirar-se de volta as ondas e nadar em busca de outra praia.
Carlos Heitor Cony
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