sexta-feira, agosto 22, 2014


 Foto meramente para ilustração, sem vinculo com o real

Eles me roubaram. Eles me roubaram a vida e a sorte. Eles me roubaram o gosto e o prazer. Eles me roubaram a rima e a prosa. Eles me roubaram o irmão que tanto amava. Eles me roubaram o espaço e o tempo. Eles me roubaram a arte e a educação. Eles me roubaram a espontaneidade e a simpatia. Eles me roubaram a coleção do The Police e o disco do Chico Buarque. Eles me roubaram a infância e a imortalidade. Eles me roubaram a adolescência e o sexo. Eles me roubaram os dias e as semanas. Eles me roubaram os meses e os anos. Eles me roubaram as manhãs ensolaradas e as noites chuvosas. Eles me roubaram o sentimento e a piada. Eles me roubaram o livro do Paulo Leminsk e a reportagem do Becket. Eles me roubaram aquele texto que ela tanto amava e que eu nem gostava tanto assim. Eles me roubaram a indignação e a revolta. Eles me roubaram a cor do mar e o azul do céu. Eles me roubaram a identidade e o destino. Eles me roubaram as palavras e os significados. Eles me roubaram a paz e a calma. Eles me roubaram a coragem e a espada. Eles me roubaram a casa e a cama. Eles me roubaram no jogo e no amor. Eles me roubaram na televisão e no rádio. Eles me roubaram na política e na polícia. Eles me roubaram na escola e na conta do banco. Eles me roubaram as samambaias e os lírios. Eles me roubaram a mãe e o pai. Eles me roubaram o carro e a bicicleta. Eles me roubaram o cão e o gato. Eles me roubaram a magreza e o fôlego. Eles me roubaram a decência e a inocência. Eles me roubaram o caráter e a força. Eles me roubaram o ar e o ritmo. Eles me roubaram o sangue e o suor. Eles me roubaram o esperma e o gozo. Eles me roubaram o encanto e a chance. Eles me roubaram a luz e o sono. Eles me roubaram o caderno e as páginas amarelas. Eles me roubaram as luvas e os sapatos. Eles me roubaram a luta e a vitória. Eles me roubaram a liberdade e a escolha. Eles me roubaram a caneta e o computador. Eles me roubaram os cabelos e a fala. Eles me roubaram a comida e os talheres. Eles me roubaram a gasolina. Eles me roubaram o dinheiro dos impostos. Eles me roubaram o silêncio. Eles me roubaram a boa música. Eles me roubaram a cena. Eles me roubaram a frase. Eles me roubaram o pensamento. Eles me roubaram a inteligência. Eles me roubaram a cabeça. Eles me roubaram os rins, fígado, estomago e os joelhos. Eles me roubaram a credulidade e a paciência. Eles me roubaram os sentidos. Eles me roubaram a consciência. Eles me roubaram os documentos. Eles me roubaram a beleza e o charme. Eles me roubaram no IPTU. Eles me roubaram no pedágio. Eles me roubaram o violão. Eles me roubaram a memória. Eles me roubaram a cidadania. Eles me roubaram o tabuleiro de xadrez. Eles me roubaram o altruísmo. Eles me roubaram as segundas, as terças, as quartas, as quintas, as sextas, os sábados e os domingos e também os feriados. Eles me roubaram no futebol e nas cartas. Eles me roubaram os escrúpulos. Eles me roubaram a cidade e o Estado. Eles me roubaram a Nação e na sinuca. Eles me roubaram as cartas de amor. Eles me roubaram a água. Eles me roubaram a sanidade. Eles me roubaram o sorriso e o choro. Eles me roubaram a visão e a ingenuidade. Eles me roubaram o jornal. Eles me roubaram no aluguel. Eles me roubaram o casaco e o cobertor. Eles me roubaram a saúde e o espírito. Eles me roubaram o Direito. Eles me roubaram o voto. Eles me roubaram no farol. Eles me roubaram no telefone. Eles me roubaram em Davos e em Nova York. Eles me roubaram em São Paulo e nos Campos Elíseos. Eles me roubaram na conta do bar e no supermercado. Eles me roubaram a vontade. Eles me roubaram o bilhete premiado. Eles me roubaram a passagem de volta. Eles me roubaram os anéis e os dedos. Eles me roubaram o seu amor (mesmo que por alguns instantes). Eles me roubaram a saudade. Eles me roubaram cada pedacinho de chão. Eles me roubaram em cada gesto. Eles me roubaram a naturalidade. Eles me roubaram o café e o pão (em cada migalha). Eles me roubaram a forca e o pêndulo. Eles me roubaram a felicidade. Eles me roubaram em e quase tudo, o quanto puderam. E ainda continuam roubando… 
Carlos Diaz Ramos

Um comentário:

Anônimo disse...

Como pode um ser mandar na maioria...e pior só fazem merda.