Jamais experimente a Liberdade se você não for
capaz de suportar a Solidão.
Eu
diferencio claramente solidão de solitude: esta é voluntária e corajosa; aquela
nos é imposta pelo Medo. Solidão é carência. Solitude é suficiência. A solitude
tem beleza e esplendor: por isso, positiva. A solidão é humilhante, escura e
melancólica: portanto, negativa. A primeira é saudável; a outra, uma doença.
Solitude é coisa do indivíduo. In-divíduo. Inteiro. Único. Indivisível. Porém,
a solidão vive sempre em busca de caras metades. Sempre pede companhia, implora
companhia. Mas só companhia certamente não resolve. Tanto, que existe solidão a
dois e solidão a mais. Escrevi até um livro, cujo título é Solidão a mil — com
o duplo louco sentido que o termo sugere.
Mas o
tema é complexo, e eu fico pensando. Será que você, você que não entende como
posso ter feito ontem um jantar só pra mim — com luz de vela e tudo — será que
você nunca passou uma noite inteira lendo um livro, sublinhando palavras ao
acaso, cotovelos apoiados na mesa, as mãos e um belo copo de vinho suportando a
cabeça dançante? Será que você nunca passou uma noite inteira sozinho,
deliciando-se com você mesmo, solto e alegre — sem saber nem como amanhecer?
Pois
então é preciso que eu te pergunte: Você é livre para vivenciar gostosamente a
própria Solidão — se quiser — ou tem sempre que reparti-la com alguém?
O
direito à solidão e a capacidade de exercê-lo plenamente são, para mim, mais
importantes do que a solidão em si. Entretanto, como já disse, quando falo em
solidão eu me refiro, mais apropriadamente, à solitude — que é algo muito além
do que apenas estar sozinho. Aliás, eu adoro companhia! Mas tem que ser
companhia inteligente, libertária, excitante, criativa e, preferencialmente,
sensual. Quem não tem sensualidade transbordante não inspira um segundo sequer
do meu tempo.
Edson Marques
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