sexta-feira, dezembro 11, 2015

Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
As ferozes televisões que mostram o mal

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino que chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o que há melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Carlos Drummond de Andrade

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