O céu está nas nuvens. Altas passam as nuvens.
Ninguém as possui. Ninguém!
Podes vender-me um dólar de água da fonte?
Um nuvem grávida, crespa e suave como uma ovelha?
Ou, quem sabe, água chovida das montanhas, água dos charcos?
Água dos charcos, abandonada aos cães?
Ou uma légua de mar, talvez um lago?
A água cai e corre. A água corre. Passa.
Ninguém a possui. Ninguém.
Podes vender-me terra?
A profunda noite das raízes, dentes de dinossauros,
A cauda espessa de longínquos esqueletos?
Podes vender-me selvas já sepultadas, aves mortas,
Peixes de pedra, enxofre dos vulcões,
Milhões e milhões de anos em espiral crescendo?
Podes vender-me terra?
Podes vender-me?
Podes?
A tua terra é terra minha, todos os pés se apoiam nela.
Ninguém a possui. NINGUÉM!
Nicolás Guillén
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