Tudo é novo pra quem é novo. Não ceder ao hábito, que é usura progressiva; e tudo se torna poeirento e cinza, tudo se torna igual ao que somos, tudo se parece e se repete, porque nós nos parecemos e nos repetimos. Seria preciso o homem se acrescentasse à criança, sem ela desprender-se, que a criança subsistisse dentro do homem, que fosse uma base para a construção de acréscimos sucessivos - que não a destruíssem, como acontece. Não basta ser apenas um primitivo, mas é preciso ser também um primitivo. Permanecer "primeiro" em presença das coisas primeiras: elementar diante do elementar; ser capaz de, sempre, transformar-se e não apenas ser: não imóvel, mas em movimento, em meio ao que é móvel; em contato incessante com o que transforma, transformando-se a si próprio, como a criança, entregue totalmente ao exterior, mas com esse retorno a si mesmo, que a criança não tem, em direção a um interior onde se recolhem e se ordenam as coisas.
Charles Ferdinand Ramuz
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