quarta-feira, janeiro 07, 2015

Eu falo

Falo de anchietas e potiguares.
Falo de crianças vietnamitas e afegãs. 
Falo de africanos e de portugueses.
Falo dos cadáveres de Herculano e Pompéia. 
Falo de imperadores e de jesuítas, de bancários e lixeiros. 
Falo das meninas esfarrapadas das ruas...
Falo dos narcotizados das avenidas. 
Falo de brasileiros e de americanos, mas não falo do bem nem do mal. 
Falo de irlandeses e de indianos, dos meses e das horas... 
Falo dos homens, falo das meninas em primavera, de mamilos e de bocas intumescidas. Falo da carne tenra e cálida da infância.
Falo desse projeto de vida, minúscula e feminina, sempre à altura das pernas. 
Falo de verbos e falos retesados, que circundam os mais puros e sagrados espaços pequeninos do corpo. 
Falo de mulheres no fogo do outono.
Na mais obscura poeticidade, falo do mundo.

Jomard Muniz de Britto

Nenhum comentário: