Eu falo
Falo de anchietas e potiguares.
Falo de crianças vietnamitas e afegãs.
Falo de africanos e de portugueses.
Falo dos cadáveres de Herculano e Pompéia.
Falo de imperadores e de jesuítas, de bancários e lixeiros.
Falo das meninas esfarrapadas das ruas...
Falo dos narcotizados das avenidas.
Falo de brasileiros e de americanos, mas não falo do bem nem do mal.
Falo de irlandeses e de indianos, dos meses e das horas...
Falo dos homens, falo das meninas em primavera, de mamilos e de bocas intumescidas. Falo da carne tenra e cálida da infância.
Falo desse projeto de vida, minúscula e feminina, sempre à altura das pernas.
Falo de verbos e falos retesados, que circundam os mais puros e sagrados espaços pequeninos do corpo.
Falo de mulheres no fogo do outono.
Na mais obscura poeticidade, falo do mundo.
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